Filmes Inspiram: a lutar pela liberdade de imprensa
- Vanessa Muniz
- 19 de fev. de 2018
- 5 min de leitura
Dois anos atrás o filme sobre jornalismo "Spotlight - Segredos Revelados" ganhou o Oscar de melhor filme, e esse ano o ótimo "The Post - A Guerra Secreta", outro filme sobre jornalismo, concorre a estatueta. O tema sobre a liberdade de imprensa hoje é super relevante, principalmente nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump tenta censurar ou desacreditar qualquer notícia que não lhe interesse dizendo ser fake news. Isso é o risco que se corre e o preço que se paga em um mundo onde todo mundo acha que pode dar noticiar o que quer e na hora que desejar em sua mídia social favorita sem nem menos checar se aquilo é mesmo verdade. Mas eu pessoalmente acredito que ainda existam trabalhos sérios no jornalismo e que precisamos de bons jornalistas investigativos para denunciar as injustiças que acontecem no mundo. Selecionei aqui filmes que nos inspiram a acreditar que precisamos deles.
Todos os Homens do Presidente (1976)
Excelente filme de Alan J. Pakula que conta a história real de como dois repórteres do jornal The Washington Post, Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman), revelaram ao mundo um dos maiores escândalos da política mundial: o caso Watergate. Que culminou com a renúncia do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. O filme até hoje é estudado em faculdades de jornalismo pelo mundo, pois este não é um filme (apenas) sobre política, mas sim uma busca implacável por respostas, uma parceria marcante entre fonte e repórter e sobre a imprensa exercendo o seu dever de informar sem desviar o olhar do que for menos conveniente. Venceu o Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Jason Robards), Melhor Direção de Arte, Melhor Som e Melhor Roteiro Adaptado, além de ter sido indicado ao Oscar também nas categorias de Melhor Filme, Melhor diretor (Alan J. Pakula), Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Alexander) e Melhor Edição. Filmaço!!
The Post - A Guerra Secreta (2017)
Em 1971, os editores Katharine Graham (Meryl Streep) e Ben Bradlee (Tom Hanks) do The Washington Post arriscam suas carreiras e liberdade para expor segredos governamentais que abrangem três décadas e quatro presidentes dos Estados Unidos. O filme, um excelente manifesto pela liberdade da imprensa, é dirigido por Steven Spielberg e concorre ao Oscar de melhor filme este ano. Meryl Streep, pra variar, está maravilhosa e concorre ao Oscar de melhor atriz. Outro caso real que aconteceu um ano antes dos eventos do filme "Todos Os Homens do Presidente". Vale assistí-los na sequência!
Spotlight - Segredos Revelados (2015)
O filme vencedor do Oscar de 2016 conta a história real e chocante de um grupo de jornalistas do The Boston Globe que investiga o abuso de crianças por padres católicos, acobertados pela Igreja. Eles conseguem reunir documentos que podem provar os crimes cometidos e o envolvimento de líderes religiosos que tentaram ocultar os casos. Além disso o filme mostra os resquícios da crise que assombra os veículos: corte de pessoal, a velocidade da internet assombrando os jornalistas investigativos e a constante perda de interesse do público pelo jornal impresso. Vencedor do Oscar de melhor filme e melhor roteiro original além de ter sido indicado também ao Oscar nas categorias de melhor diretor (Tom McCarthy), melhor atros coadjuvante (Mark Ruffalo), melhor atriz coadjuvante (Rachel McAdams) e melhor edição.
O Informante (1999)
Em 1994, o ex-executivo da indústria do tabaco Jeffrey Wigand (Russell Crowe) deu uma entrevista bombástica ao programa jornalístico 60 Minutes, da rede americana CBS. Dizia que os manda-chuvas da empresa em que trabalhou não apenas sabiam da capacidade viciadora da nicotina como também aplicavam aditivos químicos ao cigarro, para acenturar esta característica. Na hora H, porém, a CBS recuou e não transmitiu a entrevista, alegando que as consequências jurídicas poderiam ser fatais. Baseando-se nesta história real, o filme narra a trajetória partindo do ponto de vista de Lowell Bergman (Al Pacino), o decidido produtor do famoso programa, onde cada cartada para trazer a matéria ao ar é de uma lógica singular. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor diretor (Michael Mann), melhor ator (Russell Crowe), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor montagem e melhor som.
Boa Noite e Boa Sorte (2005)
O filme trata do embate entre o jornalista Edward R. Morrow (David Strathairn), apresentador da rede de TV CBS (que terminava seus programas desejando ‘boa noite e boa sorte’ aos espectadores), e o senador Joseph McCarthy, que iniciava sua política de caça às bruxas, em combate ao comunismo. Além do que já se conhece da história, é interessante notar, no filme, como a intimidação da imprensa se dá, e como um jornalismo responsável pode realmente informar. Morrow desnuda as mentiras e manipulações de McCarthy e oferece espaço em seu programa para que o senador responda às acusações, mas a intimidação é o caminho escolhido. Táticas de manipulação, relação tensa entre política e imprensa, uso da câmera como arma, não ficaram restritos na década de 1950: ainda hoje podemos ver tudo isso e muito mais. Foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor roteiro original, melhor direção de arte, melhor fotografia, melhor ator (David Strathairn) e melhor diretor (George Clooney).
Quase Famosos (2000)
O jornalismo cultural também tem vez nos grandes filmes sobre a imprensa. Tudo bem que o longa-metragem de Cameron Crowe romantiza demais a profissão, mas os excessos são perdoados pela divertida história do garoto que acompanha uma banda de rock para fazer uma reportagem para a revista "Rolling Stone". O filme tem inspirações óbvias na realidade do próprio cineasta, e fala de um dilema comum para os profissionais que cobrem cultura: o conflito entre o jornalista-fã e o jornalista-repórter. É uma aula de jornalismo, mas o clima é tão leve e a trilha tão apaixonante que você nem percebe. Venceu o Oscar de melhor roteiro original (Cameron Crowe), além de ter sido indicado ao Oscar de melhor edição e de ter duas atrizes concorrendo na categoria de melhor atriz coadjuvante (Frances McDormand e Kate Hudson).
Frost/Nixon (2008)
O caso Watergate até hoje serve como exemplo de apuração e reportagem, fazendo parte da história do mundo e do jornalismo, por isso tantos filmes sobre o mesmo tema. Frost/Nixon resgata a entrevista que o ex-presidente americano Richard Nixon (Frank Langella) deu, ao apresentador inglês David Frost (Michael Sheen), sobre o escândalo, pouco tempo depois que documentos provaram sua participação no caso. O filme traz toda a tensão dos bastidores de uma entrevista com essa amplitude, com o preparo do entrevistador, as exigências do entrevistado, o clima pesado das gravações, as perguntas espinhosas e o trabalho duro de sedução do entrevistado. Uma boa aula para quem acha que entrevistar é apenas fazer pergunta. Foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor edição, melhor ator (Frank Langella) e melhor diretor (Ron Howard).
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